Eu não… até ter O MEU DIAGNÓSTICO!
A Endometriose é uma doença bastante enigmática. Porquê? Porque estamos a falar de uma patologia absolutamente avassaladora e incapacitante fisica, social e, em grande parte, emocionalmente.
Antes de mais, permitam-me clarificar… A Endometriose é uma doença crónica inflamatória que afeta, fundamentalmente, mulheres em idade fértil. Isto significa, que podemos estar a falar de manifestações intensas da doença, durante a sua vida reprodutiva, ou seja, desde a menarca (a primeira menstruação) até, ou mesmo depois, da menopausa. Sim, menopausa, leram bem! A doença pode persistir…. Mas sobre isto, deixo as corretas apreciações para os especialistas na área!
Continuando… são cerca de 350 mil em Portugal, as mulheres que sofrem de endometriose. As que já têm diagnóstico, claro está!! Apesar do franco impacto que esta doença acarreta, o diagnóstico ainda consegue ter um atraso de 7 a 11 anos, até que consigam dizer: Afinal, TER DOR, NÃO É NORMAL!
A presença de dor crónica incapacitante, intensa e esgotante, de forma diária (por vezes), será uma das melhores descrições que vos posso fazer sobre a mesma. Embora seja associada pela presença de fortes dores abdominais e pélvicas, dores ao urinar e evacuar, dor nas relações sexuais, entre outras, é importante realçar que, esta doença também pode ser assintomática. Cada caso, é um caso!
Grande parte das mulheres vê a sua vida sem controlo! O simples convívio com amigos e família, é muitas vezes em sofrimento ou, simplesmente adiado, omitindo quase sempre, a verdadeira razão pela qual o fazem. São inúmeras, as mulheres, que perdem o seu trabalho, por não conseguirem levantar-se da cama e ir trabalhar! E isto, pode ser avassalador… não somente para as mulheres com endometriose, mas para todas as pessoas, que com ela lidam e privam nesta luta incansável.
A Infertilidade é, possivelmente, um dos aspetos mais angustiantes para a maioria das mulheres. A endometriose não é sinónimo de infertilidade mas, pode significar, necessitar de ajuda médica para engravidar.
A incerteza na possibilidade de um dia poderem vir a concretizar um sonho: poder ter um filho – o ser-se mãe, pode estar na origem de grandes alterações emocionais: uma grande dor, que vai para além da questão física. Neste ponto, recordo o sofrimento e ansiedade sentidos, aquando dos tratamentos de reprodução assistida e a impossibilidade de certezas na viabilidade dos mesmos. Estamos a falar de tratamentos de estimulação ovárica, punção, transferência de embrião, que nem sempre significam o POSITIVO para gravidez. Mas não é só… Antes disto, a mulher (o casal), ainda tem que passar por exames de diagnóstico, possíveis tratamentos e, até mesmo, cirurgia quando necessário.
Qual é o impacto emocional disto tudo? Falamos de sentimentos de culpa e incompreensão (muitas vezes da própria família/ mulheres). Sentimentos de injustiça, estigma social em relação à doença e relações conjugais viradas do avesso!!
Assim, como na maioria das doenças crónicas, o suporte emocional é extremamamente importante para a mulher/casal que convive com a endometriose. Apesar de não ser fatal, a patologia acarreta diversos efeitos psicológicos nocios, como a prevalência de possíveis quadros de ansiedade e depressão. É, de extrema importância para o seu tratamento, a compreensão do seu estado emocional, assim como, uma abordagem mais humanizada sobre a saúde da Mulher.
Por estes, e por outros tantos motivos, tenho dedicado um especial interesse em proporcionar apoio psicológico nesta área. Sentirmo-nos compreendidas e validadas nesta doença, já é o inicío de uma grande conquista: a procura por uma vida mais “normalizada”.
O facto de existirem mulheres que não conseguem ter qualidade de vida, é motivo suficente para que esta doença não seja silenciada. Procure ajuda especializada e, de preferência, por uma equipa interdisciplinar que saiba atuar na área da Endometriose.
Estaremos aqui, para ajudar!
Não esqueçamos a saúde reprodutiva da mulher.
Não deixemos silenciar esta doença e a dor emocional que comporta !!
Ana Dourado
Psicóloga Clínica e da Saúde,
Especialista em Psicologia da Gravidez e da Parentalidade.