A prevalência das perturbações mentais é imensa a nível mundial.
Falamos genericamente que uma em cada 5 pessoas está neste momento a sofrer algum tipo de distúrbio psicológico ou doença mental, com a depressão e a ansiedade destacados no topo desta pirâmide. Infelizmente o estigma ainda permanece em muitas famílias e em muitas pessoas, que ainda associam estes serviços a doença grave, vincando uma distinção entre o que é físico e o que é mental, facto que a ciência tem provado cada vez mais de que não existe.
Felizmente, este estigma tem também sido continuamente quebrado, sendo uma realidade nos dias de hoje a compreensão por uma faixa cada vez maior da sociedade de que os serviços de saúde mental não são só para uma situação de doença grave, muito menos de que as pessoas só devem recorrer aos mesmos em último caso.
Certo também ser muito comum que antes de uma primeira consulta o cliente relate já ter tentado uma panóplia de pseudo terapias e maneiras de autocuidado no sentido de tentar mitigar o seu sofrimento, assim como outras estratégias desadaptativas, quase como uma espécie de automedicação como o excesso de álcool, tabaco e o consumo de substâncias.
Se os serviços de saúde mental são caros e as soluções públicas são reduzidas, isso é uma realidade infelizmente. Mas pensemos que se calhar as alternativas são tão ou mais caras do que recorrer, no caso da minha profissão a um Psicólogo.
Sofrer de algum tipo de distúrbio psicológico implica muito provavelmente um impacto gigantesco em várias áreas do indivíduo, que com esse sofrimento associado, não estará com certeza no nível ótimo das suas capacidades para conseguir fazer frente a esses desafios que fazem parte da vida.
Dificuldades de concentração, irritabilidade, cansaço, perdas de memória, são sintomas bastante transversais e que têm obviamente peso no normal desempenho da pessoa, quer no seu trabalho com perdas de produtividade por exemplo, quer na sua família, com o desencadear de conflitos.
Compreender esta dinâmica torna-se relevante para compreender também o custo, que muitas vezes não está à vista no recibo da consulta, mas sim escondido no que vamos fazendo nos nossos dias e que provavelmente não faríamos se estivéssemos bem.
Se as consultas terão um determinado custo, também ficar de baixa provavelmente o terá. Se o indivíduo fumar mais porque está stressado ou ingere bebidas alcoólicas porque se sente tenso, não só um custo para a saúde está inerente, como também para a sua carteira.
Assim, falarmos do dia da saúde mental é desejarmos que ele seja cada vez mais um mote para a acessibilidade a todos destes serviços. Certo que os serviços públicos não dão resposta, nem comparticipam como o deveriam. Mas certo também será que o não investimento na saúde mental não deve ser descartado. Procurar ajuda o mais cedo possível, quando as preocupações, o stress em excesso ou a perda de alguém, ou algo significativo nos colocam num desconforto que está a ser difícil gerir, é limitar consequências, fruto de trajetórias negativas que depois podem desaguar em doença grave. Porque se a ferida for tratada quando ainda tiver pouca profundidade será provavelmente mais rápido, fácil e barato de o fazer.
Dr João Fernando Martins, coordenador do Centro de Bem-Estar Psicológico e Saúde Mental.