A Importância de Dormir Bem

Entrevistamos, Professora Doutora Bebiana Conde, uma das únicas especialistas portuguesas distinguidas pela European Sleep Research Society, que nos revelou que o problema do sono assume uma importância cada vez maior e que os cidadãos são os primeiros a estar atentos a esta questão, bem como a medidas inerentes à sua resolução.

Professora Doutora Bebiana Conde é uma das poucas especialistas portuguesas certificadas pela European Sleep Research Society. Conte-nos o seu percurso profissional até chegar à OPFC- Clínica Médica do Porto.

Posso afirmar que foi um longo percurso. Terminei a especialidade de pneumologia em 2008 e, nesse mesmo ano, adquiri uma certificação europeia pela European Respiratory Society na mesma área. A partir de 2009 dediquei-me à ventilação, sono e fisiopatologia respiratória, em particular com a responsabilidade da ventilação domiciliária de doentes neuromusculares na região norte (Trás-os-Montes e Alto Douro, tal como nordeste), no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, e no Hospital da Luz de Amarante e Vila Real.

No triénio 2012 -2015, fui a fundadora e coordenadora do Grupo de Interesse a suporte ventilatório a doentes neuromusculares da Sociedade Portuguesa de Pneumologia. Em 2015 iniciei o Doutoramento na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, que terminei em 2019, com o tema: “Esclerose Lateral Amiotrófica, um novo paradigma”. Em 2016 adquiri a certificação em medicina do sono pela European Sleep Research Society. Entretanto, optei por aceitar o convite para uma atividade assistencial no Porto, numa área em que já tinha uma vasta experiência. Assim, tive a oportunidade de criar um grupo especializado e multidisciplinar, com elementos altamente diferenciados e com um trabalho reconhecido na área do sono e das suas patologias.

No dia 18 de março assinalou-se o Dia Internacional do Sono e, ao que pudemos apurar, a Consulta Multidisciplinar do Sono é um dos mais recentes investimentos da clínica. Em que é que consiste esta consulta? É realizado algum estudo para avaliar o sono do paciente?

A consulta é coordenada por mim e, em função das queixas do doente, temos todos os especialistas necessários à resolução dos problemas relacionados com o sono, tal como os meios complementares de diagnóstico (exames) necessários ao seu estudo e ao consequente tratamento. Os exames podem ser realizados em ambulatório ou durante a noite na clínica permitindo, assim, o estudo de todas as patologias associadas ao sono.

Normalmente, o que é que costuma ser recomendado àqueles que têm maus hábitos de sono? Existem alguns cuidados que podemos ter durante o dia para que consigamos descansar melhor à noite?

O sono prepara-se, de facto, durante o dia. Definimos como medidas de higiene do sono ou cuidados gerais que todos deveríamos cumprir, o rigor nos horários de acordar e deitar, a exposição à luz solar de manhã e a cessação da exposição da luz durante o período de fim do dia, para que se possa produzir as hormonas necessárias ao correto ritmo circadiano. No final do dia deve reduzir-se a atividade intelectual e estimulante, para preparar o período de sono.

No que diz respeito à última refeição, esta deve ser leve e sem bebidas alcoólicas. Café e outras bebidas com cafeína não devem ser consumidas a partir do almoço/lanche.

Estudos recentes revelam que 46% dos portugueses, com mais de 25 anos, dormem menos de seis horas por dia. Na sua opinião, o que justifica esta má qualidade de sono?

Na minha opinião, tal facto deve-se à ânsia de realizar mais atividades e à exposição excessiva a dispositivos eletrónicos.

Tendo em conta a sua experiência, qual é o impacto causado pela privação do sono?

A privação do sono associa-se a múltiplas patologias, nomeadamente à irritabilidade, ansiedade e depressão, menor produtividade de forma imediata ou a curto prazo, mas posteriormente também se associa a alterações metabólicas, cardiovasculares e quadros de deterioração cognitiva.

Não podemos esquecer ainda os acidentes de viação ou acidentes laborais, que podem surgir devido à privação crónica e marcada de sono.

Voltando a si e como especialista, como descreve a experiência de se poder dedicar-se à Multidisciplinar do Sono? Os pacientes reconhecem que precisam de ajuda neste campo?

É notória a preocupação da população em relação ao sono ainda assim, como é necessária uma mudança comportamental por parte dos cidadãos, muitas vezes isto compromete os resultados e o sucesso da intervenção terapêutica.

As pessoas preferem medidas rápidas, mas é importante perceber que corrigir problemas do sono, na maioria das situações, exige um compromisso do paciente na intervenção comportamental e multidisciplinar.

Em que altura considera pertinente/necessário consultar um especialista neste campo? Quais são os sinais de alerta para procurar ajuda?

Pontualmente todos nós temos dias de sono não reparador. No entanto, quando estes são frequentes e comprometem a vida pessoal, profissional ou até mesmo social, então estamos perante um problema que precisa de ser equacionado e, posteriormente, resolvido.

Fonte: Portugal em Destaque

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